Mães, vocês estão bem doidas?
Tempos de #ficaemcasa, meu terapeuta disse para eu observar. Então estou observando. Vejo não só no feed do instagram, mas na vida real, mães com filhos bebês, e isso pode ser até 4 anos...mães de um filho, de dois, mães de três ou mais, com idades diferentes, minhas heroínas! Cada fase do filho tem necessidades diferentes.
O Arthur, meu filho, era um menino matutino madrugador. Acordava entre 6h40min e 7h10min, isso depois que já tinha mais de um ano, antes era antes das 6h30min, e demorou muitos anos para descobrir a alegria de dormir até às 10h, tipo, faz um ano e pouco. Ele agora tem 10 anos, ocupa muito espaço na cama. E uma vez descobrindo, calculem a dificuldade em acordá-lo sem ter o compromisso da escola agora...
Uma colega que considero amiga tem dois meninos, e estou acompanhando ela fazer caça ao tesouro, torres de frutas, quebra cabeças, bolinhos, aquarelas, experiências...eles são pequenos, mas não bebês, isso significa que são necessárias muitas atrações por muitas horas do dia, sem escolinha nem vovó, e sem querer usar a TV por mais tempo. Eu lembro da demanda. É muita demanda. Porque tem a parte utilitária da maternidade, que eu chamo, que é de preparar comida, escovar os dentes, dar banho, botar na cama, fazer dormir, levantar durante a noite se chamar, comprar e dar remédio se precisar...e tem a parte lúdica e divertida, de brincar junto, desenhar, ler histórias, dançar, e o que mais a mãe for capaz de inventar, e faz tudo por aquela gargalhada.
E até uns 6, 7 anos, até 8, tudo é com a mamãe. Nem que seja para a mamãe olhar: "Olha, mami, sem as mãos, olha mami, eu consegui, vem ver, mami, eu fiz uma bolha de sabão no banho!!"
Eles vão ficando independentes, e nós também. Não tem mais peito, depois não tem mais fralda, não tem mais comida especial, não tem mais leite antes de dormir, não tem mais que dar banho, não tem mais que limpar no banheiro ("vê, mãe, ficou limpo?" adoro)
E penso: ufa, minha demanda reduziu sensivelmente, porque realmente agora eu basicamente acompanho. Ele vai para a escola, com ensino de verdade, e como foi sempre no integral (sem julgamentos, obrigada, de nada), a tarefa também é lá, só estudamos juntos para a prova, e conversamos sobre o que foi visto no dia (todos os dias na volta do colégio, sou muito curiosa, porque logo ele vai me passar nos conhecimentos sobre céu, terra e equação). Ele também já sabe escovar os dentes e tomar banho, e comer sozinho. Beleza.
Não, ledo engano. Agora fica só diferente. Não é mais para ensinar a não enfiar o dedinho na tomada, nem que não pode tomar água da privada. Agora é ensinar a ser um bom cidadão, que joga lixo no lixo, e que existem lixos diferentes, e que podemos reduzir isso, que não precisa acender a luz para tudo e tem que apagar depois de sair do ambiente (em casa eu ouvia:"comprou ações da CELESC, minha filha?"), que a louça usada por todos deve ser lavada por todos.
Agora ensino que a pessoa que limpa a rua é igual ao dono do restaurante, e por isso merece ser tratada com o mesmo respeito ("dá oi, filho", quem nunca?), que mesmo que o vizinho não cumprimente no elevador a gente segue dando boa tarde sozinho, porque se o outro não é bem educado, é problema dele. Explico o que é o meu trabalho, do pai, dos avós, dos dindos...
Agora tenho que explicar que ter sonhos é fundamental para ter uma vida interessante, e ir atrás deles requer esforço e provavelmente estudo, e isso é ótimo, mas o que dizer quando ele percebe que tem gente que não sonha porque acha que não adianta mais, e tem quem sonhe e mesmo trabalhando muito e se esforçando muito, não alcança? Explicar que a terra é redonda é fácil (mesmo que agora tenha oposição), difícil é achar a razão para tanta gente morar onde não tem água encanada nem esgoto e que não tem oportunidades de trabalho para todo mundo. Explicar que o amor é maravilhoso e ele pode acontecer de muitas formas e ver ele encarar com naturalidade as diferenças é lindo demais.
Explicar o covid, o isolamento, a curva, a orientação da OMS e outras (des)orientações, porque não pudemos viajar para ver o melhor amigo Antonio e que isso definitivamente não é o mais importante, que tem que ter leito para todos que ficarem doentes e precisarem, e que ficar em casa é importante e não, não podemos visitar a vovó, nem o Opa, nem os dindos. Ele entendeu essa parte beeeem mais rápido do que muitos adultos.
Tenho que explicar por que não dá para a gente dar dinheiro para todas as pessoas que pedirem no sinal, mas devemos, porque podemos, doar alimentos para abrigos e fazer outras ações para ajudar quem precisa, e que roupa não é velha, é usada para nós e pode ser nova para outra pessoa que não tem como comprar.
Então na semana passada ele teve que escrever uma história sobre alguém que inspirasse, e ele escreveu sobre mim. Não sobre a mamãe, nem a juíza, mas sobre a Andrea que começou a correr e sempre foi feminista (é mais recente do que ele pensa) e que criou com amigas o Mulheres que Correm para organizar treinos femininos de corrida para as mulheres se sentirem mais fortes, felizes, capazes e solidárias, e que o grupo é importante porque ajuda mulheres vítimas de violência.
Quando eu li...bom, mães choram. E pensei que alguma coisa de bom estou fazendo, principalmente pelo fato dele se orgulhar de algo que faço e que não tem nada a ver com ele.
Ainda bem, porque como eu já disse várias vezes, e não tenho nenhum problema com isso, eu adoro ser mãe, mas isso não me define nem me basta.
Nesse período que estamos em casa, desde meados de março, já passamos por várias fases. Já tentei manter uma rotina de acordar no horário de escola (ridículo, ele não tem o que fazer em tantas horas), depois fiz uns dias de "uhu, estamos em férias, estaríamos viajando então relaxa", que também não deu tão certo porque não fomos a lugar algum...tenho dias de mãe louca, que manda arrumar o quarto, lavar os talheres, fazer a tarefa, sair do tiktok, estudar, tudoooooo, e termino dizendo:"Assim, não dá, meu filho". Tenho dias mais fofa, abraço mais, beijo mais, e percebo que ele me enganou e vestiu o pijama sem tomar banho... Eu tenho toda a solidariedade pelas mães que estão passando por isso, mas tenho também pelas crianças, e uma esperança de que esqueçam algumas partes.
Mas agora, aquela sensação de não ser mais tão necessária, em vez de alívio, dá...saudade. Por isso falo que mãe é tudo louca. A gente reclama do excesso de demanda, e quando alivia, a gente se sente tão inútil...sei que não sou, e temos muito pela frente.
Só que estou num momento de mãe na "periferia", no isolamento social.
Eu sou mãe funcional. Gosto desse negócio de cortar a fruta, separar o lanche, chamar para fazer um bolo (agora nem sempre ele quer fazer comigo), mandar escovar os dentes. Nesse período, faço o almoço e o jantar, em geral, e dividimos em casa outras atividades.
Normalmente, eu levo para a escola na maioria dos dias e também busco, levo na dentista, nos médicos, na vacina, na polícia federal fazer passaporte. Reclamo de ficar sobrecarregada e reclamo de não fazer (mãe louca, já falei). Adoro estudar junto para a prova, mesmo ficando sempre cansada.
Além disso, somos muito parceiros para tudo que é fora de casa. Andamos de bike juntos desde sempre, antes ele na cadeirinha, depois na garupa e agora na bike dele, observamos pássaros e bichos na rua, cantamos, fazemos piquenique em praça, vamos ao mercado, à feira, comprar e tomar sorvete, à livraria, descobrimos novas árvores e casas na rua, procuramos as corujas na praia da Daniela, passeamos de caiaque, assisto Taekwondo, seja na aula, na troca de faixa, no campeonato, o golpe novo, a fórmula nova, acompanho nas tentativas de se quebrar todo, digo, fazer parkur, vejo todos os pulos e acrobacias.
Nada disso está acontecendo agora. Estamos em casa. E ele tem dez anos, repito. Tem o canal do Youtube (Game World Arthur) e joga minecraft, cria mundos, comprei um curso de programação online e ele está gostando. Joga o maldito fortnite (só quem é mãe de menino entenderá), com todos os desafios e buscando as novas "skin", que são as roupas de barbie que eu comprava, mas online, basicamente. E eu não entendo quase nada do que ele joga. Nem pokemon entendo. Essa sempre foi a parte do papai, legalzão, que joga videogame, e até ensinou poker online. Os dois caçam pokemon e vão nas parties (oi??), batalham nos ginásios quando vão levar a cachorra para o passeio, única saída do dia do meu filho. Eu faço de conta que entendo.
Existem os jogos online, aqueles que não tem tecla "pause", que tem uma parte legal, eles jogam com os amigos que já têm na vida real, então mantêm uma certa interação que muito me interessa.
E ele até tenta me incluir, não posso reclamar, me mostra todos os personagens, pede minha opinião sobre as skins, me chama para assistir várias partidas, que eu assisto alegremente sem compreender niente. Sabiam que um rapper (Trevor Scott) é super campeão de Fortnite e tem sua própria skin? e fez uma live dentro do jogo??? O cara é um gênio, os criadores do jogo são gênios...esse era meu ponto de vista, enquanto assistia à live do jogo e esperava para assistir a live da Ivete Sangalo, porque live juridica só durante a semana.
Quero saber como as outras mães estão fazendo...porque o meu filho faz todas as tarefas, eu acompanho, vejo o que falta, monitoro...ele lê (não loucamente como eu, mas lê), cumpre o que a gente manda fazer, lá pela quinta vez que a gente manda, mas cumpre. E o fato é que sobra tempo, bastante tempo. E não, ele não quer mais fazer um monte de coisas comigo, ainda mais dentro de casa que nem eu sei o que fazer, o que em parte eu acho ótimo porque tenho que trabalhar, preparar aula e estudar muito neste momento. Assistimos alguns programas juntos e eu gosto de vários youtubers que ele curte, como Coisa de Nerd, com o Leon e a Nilce (adoro ela), o Imaginago, e, mesmo sem gostar muito, assisto a outros para seguir acompanhando, sabem como é...até Felipe Neto, depois de aumentar a licença maternidade das mulheres que trabalham para ele, subiu no meu conceito. A que ponto chegamos.
Para as mães de meninas, o que tenho a dizer é: viva a Elsa! Salve Frozen!!
Tudo isso para dizer que somos feitos de paradoxos e contradições. Eu, pelo menos. Seguimos parceiros, mas eu me sinto mais "MÃE" do que nunca, porque sou excluída de várias diversões, e lembrada no momento da fome...é o destino de todas nós, afinal, só estou fazendo um estágio...E quando ele vai dormir, e eu ainda me deito algumas vezes com ele, eu dou aquele cheiro, aquela fungada no cangote, e ele diz "te amo, mami", e vira de costas para ganhar um carinho. Como vai ser maravilhoso quando voltarem as aulas. E como vou sentir falta dele. Mães são loucas. Ou só eu?